Milhões de anos, sobrevivência, vida e morte
Morte e vida. Transformação
Crescei e multiplicai-vos. Assim foi feito
Crescei e matai-vos. Assim foi feito
Quem o disse? Não sei
Num mundo secular, repetitivo até à exaustão
Agarro-me como posso a alguma sabedoria
Mais uma ilusão tardia! Tenho de acreditar em mim
Chega o pôr-do-sol e logo é noite
Fico extasiada, incomodada, dilacerada também
Observo os dias, crédula, incrédula
Tal relógio dando horas, até parar sem corda.
Olho para trás e vejo nitidamente
A velhice surgir demasiado cedo
A pele, este invólucro de má qualidade não perdoa
Não se concilia comigo. Quem me desnuda?
Para quê? Rio-me de mim, das minhas fantasias
Breve é a vida e eu sempre a teimar viver o amanhã
Para a semana, no próximo mês, no fim do ano, talvez para o ano
É no hoje que vivo e é no hoje que vou morrer
Amanhã, sempre o amanhã, como um vício o tempo rasgo.
Acabei como tudo e todos. Serei reciclável?
Muda, marcada por tudo que vivi e não vivi
Pertenço-me integralmente! Ninguém me alcança já
Quem me observa? Quem curiosamente me observa?
Ninguém queira saber quanto chorei ou ri
Ninguém ouse argumentar sobre a minha felicidade
Ou comovidamente dizer o que sofri
Quem sabe de mim? Ninguém, mesmo ninguém
A alma restou calada, o corpo foi morrendo
Hoje parou só, sem corda. Inevitável!
As vossas palavras são inúteis, distraídas, nada traduzem
Meditareis talvez sobre o tempo que vos resta
Ofereço afinal alguma sabedoria a quem a quiser guardar!
É gratuita.
Tenho pena de alguns gestos retidos,
Beijos contidos, olhares parados
Dias vazios, sem planos, sem amor, sem nada
Nada de nada é o termo
Andei distraída, confundida, apressada
Sempre o relógio a marcar o meu tempo inquieto!
Vivi num paraíso de palavras
Amanhã se verá! Não é? Sempre o amanhã…
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