como já aconteceu milhares de outras vezes, mas hoje é um dia especial "Dia do Pai".
Tanto mais difícil.
É uma carta, que creio de alguma forma vai chegar ao destinatário,
levada pela esperança de poder assim tapar alguns buracos,
corrigir algumas falhas,
dizer algumas coisas que não foram ditas.
Na verdade muito ficou por dizer.
Mas nós dois convivemos o bastante para
entendermos razoavelmente um ao outro.
Por vezes o silêncio foi eloquente:
tanto para sufocar a dor, engolir o choro e aceitar teu olhar severo...
Como para confiar, arrefecer os ânimos, aquietar.
Calado, como querias; consenti, sem querer.
Bem mais tarde, há pouco tempo,
vim a descobrir que em grande parte das vezes tinhas razão, pai.
Porque agora sou eu a me enraivecer com
as coisinhas de adolescente que assisto,
pequenas teimosias e atitudes inconsequentes que presencio.
Hoje sei que isso não tem nada a ver com liberdade.
É só ameaças, ou como dizias, má-criação.
Sinto falta das conversas na porta de casa.
Tenho saudade dos finais de tarde,
quando colocavas as cadeiras lá fora e nós ficávamos em volta
– costume que durou até quando ainda tinhas forças.
A vontade de ver a rua, o mar, andar foi-se ao poucos,
por causa da doença que ensistiu em ficar, não é?
Sei que ficas satisfeito em saber que preservei,
de certa forma, esse costume.
Lembro-me de como gostavas de cuidar da tua pequena horta,
depois que te reformas-te...
Parece ainda te ouço a chamar por para jantar, quando demorava mais no banho, até mesmo quando me repreendias, que saudades...
Hoje consigo ver além do que podem meus olhos, pai,
porque enxergo com a sabedoria de quem viveu ao teu lado.
Não sou como tu, absolutamente.
Mas não seria metade do que sou,
se não fosse por tua causa ! Hoje cá estivesses levar-te-ía uma lembrança, como não é possivel deixo-te uma flor no teu leito e esta carta os Anjos entregar-te-ão. Muita saudade e muita luz....
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